Inovação na sala de aula: projeto forma jovens empreendedores e cidadãos do futuro, no Paraná
Num mundo em que a tecnologia tem sido uma importante fonte de distração no aprendizado de crianças e jovens, as escolas precisam se reinventar e investir em novas metodologias para captar a atenção e o interesse dos estudantes. Lacunas na educação básica têm refletido negativamente na postura de profissionais no mercado de trabalho e freado a inovação e o crescimento das empresas. Uma iniciativa de uma startup londrinense tem ajudado escolas públicas e privadas a trabalhar conteúdos de empreendedorismo, tecnologia e inovação por meio de uma metodologia prática e que se conecta com as demandas do mercado.
No segundo semestre de 2024, 50 alunos do quinto ano de escolas municipais de Turvo, na região central do Paraná, participaram do Junior Startup School, um programa oferecido pela Decola Startup School, que trabalha a formação de jovens inovadores e solucionadores de problemas. A ideia é combinar o melhor do mundo das startups com as necessidades da educação básica, desenvolvendo competências como comportamento empreendedor, que abrange propósito, liderança, iniciativa e trabalho em equipe; mentalidade de inovação, a partir da resolução de problemas, criatividade e pensamento crítico; e competências digitais, com conteúdos de lógica de programação, robótica, cidadania digital.
A metodologia do programa foi aplicada por meio de uma trilha de 40 horas, dentro do Projeto Awaken – Inovação em Pauta, da Prefeitura Municipal de Turvo, que tem o objetivo de estimular a criação de ideias inovadoras pelos jovens e estimular que eles participem do desenvolvimento da cidade. “Contamos com a parceria da Decola para, através da criatividade e de ferramentas tecnológicas, despertar o empreendedorismo em nossas crianças, preparando-as para o futuro. Ao final do projeto, elas foram reconhecidas e certificadas”, conta o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Turvo, Tony Luiz Gomes. A ação contou com incentivo financeiro do Paraná Anjo Inovador, do Governo do Estado.
A CEO e fundadora da Decola Startup School, Ana Paula Murakawa, explica que a metodologia exclusiva combina elementos do mundo das aceleradoras e incubadoras de startups adaptados para a formação de crianças e jovens mais preparados para o futuro. Para isso, capacita os professores para a aplicação dos conteúdos e da implementação de uma cultura de inovação dentro da escola. Ela explica que o desempenho escolar, começando pela educação básica, tem refletido no mercado de trabalho. “O desinteresse nas aulas e a percepção de que o ensino não tem uso impactam no índice de rotatividade das empresas e custos com treinamento de pessoas pela falta de mão de obra qualificada”, afirma.
Ana Paula lembra que trabalhar os temas empreendedorismo e competências digitais é obrigatório pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a metodologia utilizada pela startup londrinense busca formar cidadãos para o futuro, transformando os alunos em pessoas mais engajadas e interessadas. O programa se adapta ao calendário letivo e pode ser aplicado em qualquer escola, com recursos próprios, desde o primeiro ano do Ensino Fundamental até o terceiro do Ensino Médio, respeitando os desafios locais.
Leilão do Bem
Em Londrina, a metodologia foi aplicada no Colégio Navegantes para alunos do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental. Por lá, a trilha de conteúdos foi concluída com um Leilão do Bem. Ana Paula Murakawa explica que as crianças, por meio de um processo de tecnologia e inovação, foram incentivadas a construir brinquedos ecológicos e a escola decidiu promover um leilão para arrecadar fundos e doar para uma instituição da cidade. As atividades envolveram, também, os professores, a coordenação e os pais, responsáveis por dar os lances na forma de alimentos não perecíveis, que foram destinados para o Instituto União para a Vitória.
“Queríamos mostrar para os alunos a diferença entre preço e valor, trabalhar com eles o conceito de que o nosso trabalho tem muito valor e supera a questão do preço”, explica a CEO da Decola.
A diretora do Colégio Navegantes, Unidade Nautas, de Educação Infantil, Alessandra Peres, conta que a ideia da parceria com a startup foi trabalhar as virtudes e os “superpoderes” com as crianças valorizando a sustentabilidade.
“Falamos sobre a posição deles no mundo e no planeta, a responsabilidade deles para o bem-estar das pessoas e sobre a importância de não sermos consumistas, de brincar com criatividade e criar brinquedos com os recursos que temos, a partir de sucata e de brinquedos parados em casa”, descreve.
No leilão de seis brinquedos ecológicos foram arrecadados 500 litros de leite, 150 quilos de arroz, 150 quilos de feijão e 75 quilos de macarrão. Para Alessandra, o mais bacana foi ver a alegria das crianças, que foram com suas famílias fazer a entrega das doações. “Vimos o quanto fez bem para elas, que puderam conhecer a situação de vulnerabilidade de outras crianças, compartilhar e também receber, já que elas brincaram juntas por lá”, comenta.
João Gabriel, de 7 anos, é um dos alunos participantes do projeto. A mãe, Bruna Rodrigues Gongora Santos, que também é funcionária da escola, acompanhou de perto todo o processo e elogiou a metodologia lúdica utilizada pela startup com as crianças. Além de estimular a inovação e o empreendedorismo, ela destaca que a trilha trabalhou como dar um novo sentido para um brinquedo e desenvolveu o sentimento de empatia entre os estudantes.
“O leilão consagrou as ações e motivou ainda mais as crianças. Eles foram até o Instituto União para a Vitória para entregar as doações e conhecer as crianças ajudadas, tiveram um momento de brincadeiras, puderam conhecer outra realidade e perceber o quanto são privilegiadas. Isso despertou neles empatia e solidariedade e, com certeza, os ajudará a serem cidadãos melhores”, analisa Bruna.
Além do Programa Junior, a Decola atua em outras frentes, voltadas para a capacitação de professores e gestores de escolas, por meio de cursos, workshops e mentorias do programa Teachers, e desenvolve hackathons, eventos dinâmicos focados em despertar o potencial inovador entre os alunos.
Neste ano, a startup promoveu um desafio intergeracional, envolvendo pessoas de 12 a 97 anos para criar soluções inovadoras a partir da troca de conhecimento e experiências entre diferentes gerações. “Contribuímos para a formação de 2 mil alunos. Em 2025, planejamos impactar outros 10 mil, ampliando a nossa atuação e transformando a realidade de mais jovens e educadores”, projeta Ana Paula Murakawa.
Santa Comunicação / Amanda Gonçalves de Santa