15/06/2025

Sertanopolis News

Nada além da verdade!

Cavalo, o melhor amigo do homem

André Naves- Defensor Público Federal - Foto: arquivo pessoal.

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Tem certas bênçãos na vida que chegam de mansinho, sem a gente esperar, feito orvalho na folha seca, e que, de repente, transformam o nosso chão. Eu, que sempre tive o pé fincado na roça, na simplicidade do campo, pensava que já conhecia os segredos da terra e a sabedoria do Agro. Sabia da tecnologia que brota do suor, da sustentabilidade que abraça a natureza, da inclusão social que floresce nas cooperativas. Mas a vida, essa mestra que nos surpreende a cada curva, guardava um tesouro que eu nem imaginava, um caminho de cura que vinha do mais puro coração do campo: o cavalo, o melhor amigo do homem, e da minha alma.

 

Lembro-me bem daqueles dias, quando a minha alma ainda estava em frangalhos e o corpo buscava se reerguer após o grave acidente que sofri. As sextas-feiras eram um alívio, um bálsamo para a alma cansada. Depois dos compromissos da faculdade e das minhas terapias na AACD, eu pegava a estrada de volta para Jacareí, cidade do interior paulista, meu porto seguro, onde as raízes da minha fé e as tradições da minha gente me esperavam. Chegava em casa, e o cheiro do pãozinho quente de batata baroa, feito pelas mãos abençoadas da Dadaia, junto com o cafezinho coado na hora, eram um abraço que curava mais que qualquer remédio. Era o aconchego da família, o calor do lar que me lembrava quem eu era e de onde eu vinha.

 

No sábado cedinho, antes mesmo do galo cantar seu primeiro cocoricó, eu já estava a caminho de Santa Branca, aquela cidadezinha linda e bucólica, vizinha de Jacareí. Lá, num sítio abençoado, eu dizia que ia ‘cuidar dos cavalos’. Bobagem! Mal sabia eu que, na verdade, eram eles que cuidavam de mim, com uma sabedoria que a ciência ainda engatinhava para compreender. Naquela época, eu nunca tinha ouvido falar dessa terapia fantástica, a equoterapia. Era um mundo novo que se abria, vindo do lugar mais simples e verdadeiro: o campo. E ali, no lombo daqueles seres majestosos, acontecia o milagre. O movimento preciso do cavalo, aquele trote tranquilo e ritmado, era como uma dança que complementava, exatamente, os estímulos que meu cérebro tanto precisava.

 

Parece até que Deus, em sua infinita sabedoria, fez o cavalo e o ser humano bem juntinhos, como peças de um quebra-cabeças místico-espiritual. Os movimentos que me faltavam, que o traumatismo craniano havia roubado, eram estimulados por aquele balanço suave, uma harmonia perfeita na simplicidade de um animal. E os benefícios, meus amigos, iam muito além dos físicos! Aquele contato, aquela cadência, eliminavam a ansiedade que me corroía, acalmavam a alma em tempestade, geravam uma empatia que me conectava com o mundo de uma forma nova; e uma humildade que me lembrava da nossa pequenez diante da grandeza da Criação.

 

Sabiam que a equoterapia é super recomendada para pessoas com TEA? E para quem enfrenta questões de saúde mental-emocional, então? É tiro e queda! Uma bênção que a gente encontra na simplicidade do campo. E pensar que tudo isso vem do Agro, do seu desenvolvimento e da sua capacidade de nos oferecer soluções que a cidade grande, com toda a sua pressa, muitas vezes esquece. Na Amazônia, dizem que tem a mesma terapia, com os mesmos benefícios, só que com botos. É a bototerapia!

 

A natureza, em sua infinita generosidade, sempre nos oferece o que precisamos, basta a gente ter o coração aberto e o olhar atento para enxergar. Eu costumo falar que a solução para a maioria dos nossos problemas está na simplicidade humilde do campo, na sua capacidade de nos reconectar com o que é verdadeiro e essencial.

 

A terapia com os cavalos não foi apenas um tratamento; foi um reencontro com a minha própria essência, com a força que vem da terra e a sabedoria que mora na humildade. Foi o Agro, que já estava enraizado em mim, me mostrando um novo caminho de cura, um milagre que brotou da simplicidade e do amor. E a cada vez que lembro, sinto de novo aquele nó no gargomilo. Mas, agora, é um nó de gratidão, um lembrete doce de que a vida é um presente, e de que a maior riqueza está naquilo que a gente aprende com a natureza e com o coração.

 

* André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

Assessoria de imprensa do Defensor Público Federal André Naves

 

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